26 de fevereiro de 2009

Reflexo

Ontem te fiz meu espelho.

Me enxerguei com seus olhos

refletidos nos meus,

e parei no seu tempo.

Um fulgor exalou em meu peito

um samba de amor,

quase meio sem jeito,

mas com ar trovador.

Sofredor,

fiz do amor, argumento

pra viver um viés sonhador.

Cantador,

fiz do samba, instrumento

pra calar todo o pranto da dor.

E amei, quando vi em seus olhos

os meus olhos de quem acordou.

Renasci, como surgem os enredos

que traduzem segredos

com intenso esplendor.

Morri, de um amor sorrateiro

pra cantar noutros cantos

outros cantos de amor.

E voei, quando vi minhas frases

beijarem sua boca,

nota por nota,

em verso e prosa

de um samba canção.

Dizem que o amor se renova

depois que os dias se vão

e a dor vai embora como quem nunca chegou.

Com o vento vem o sufoco e a demora

de não saber a hora nem a cor

da angústia que se incorpora

na ansiedade do que está pra chegar

ou ainda não se encontrou.

Dizem que a espera é reflexo da saudade

e a esperança é morrer de amor.

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