Ontem te fiz meu espelho.
Me enxerguei com seus olhos
refletidos nos meus,
e parei no seu tempo.
Um fulgor exalou em meu peito
um samba de amor,
quase meio sem jeito,
mas com ar trovador.
Sofredor,
fiz do amor, argumento
pra viver um viés sonhador.
Cantador,
fiz do samba, instrumento
pra calar todo o pranto da dor.
E amei, quando vi em seus olhos
os meus olhos de quem acordou.
Renasci, como surgem os enredos
que traduzem segredos
com intenso esplendor.
Morri, de um amor sorrateiro
pra cantar noutros cantos
outros cantos de amor.
E voei, quando vi minhas frases
beijarem sua boca,
nota por nota,
em verso e prosa
de um samba canção.
Dizem que o amor se renova
depois que os dias se vão
e a dor vai embora como quem nunca chegou.
Com o vento vem o sufoco e a demora
de não saber a hora nem a cor
da angústia que se incorpora
na ansiedade do que está pra chegar
ou ainda não se encontrou.
Dizem que a espera é reflexo da saudade
e a esperança é morrer de amor.