E quando faltara o amor
eu me deitara.
Fechara os olhos do mundo,
e abrira os da alma.
Afundara o corpo em sono profundo,
virara e revirara,
até que um sopro me tocara a palma,
remexera-me no fundo do poço
e afogara-me na calma.
E ficara sem tempo nem espaço,
sem traço nem esboço,
sem fosso e sem nem um pingo de sangue
no colo que me tange a beira do dorso
e me acalma e acalanta de todo pranto em suplício.
Tudo que passara fora precipício.
Tornara a ser livre de qualquer absurdo,
mudo de todo canto impuro,
solto de qualquer muro que alastra
de um desaforo inútil.
Sutil como música que preenche os pontos,
que arde nos contos como trilha sonora,
que do nada aflora e cora os cânticos.
E tantos foram os refrões inquietos,
brutos e repletos de acidentes múltiplos,
descontínuos de passados fugidios,
arredios como meninos de rua,
que na noite insinua arrepios
que fazem do frio cobertor,
e da lua guardiã.
Afã de qualquer valor,
residi no ardor
e calei-me por completo.
Discreto na dor,
evito o rancor como jus.
Hoje olho pro céu
e não vejo luz.
Continuo cego de amor.
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