14 de outubro de 2008

Fuga

Fujo de tudo que tenho com tudo que posso.

Corto todo o vento no rosto, 

suporto o peso do tempo na costas

corro pro outro lado do mundo

e convivo com o absurdo

de saber dar o nó e cortar a corda.

Sumo e me escondo por entre os cacos dos meus escombros.

Carrego nos ombros todo o nosso cansaço,

levo nos braços todos nossos sonhos,

passo por cima de tudo,

percorro todos os hemisférios

e atravesso as intempéries da alma

no mais absoluto mistério

que discorre dos caminhos de minha palma.

Mas é como se o tempo me vendasse os olhos

e tirasse a expressão de minha face.

Inundasse meu chão de lamentos,

escondesse meu corpo em disfarce.

Mesmo assim fujo pra outro momento

que o próprio tempo ainda nem disparou.

Fujo pra esconder as mágoas

e escorrê-las nas águas

de um rio que o céu transbordou.

Fujo e levo junto todos os nossos problemas,

todos nossos dilemas

que o tempo sem dó nos reservou.

Fujo pra devolver ao seu mundo

um infinito segundo

que o meu mundo levou.

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