E eu, que culpa tenho eu
se o tempo do meu tempo
dispara e sempre pára no mesmo lugar.
Se as rosas que eu cultivo
não são flores pra qualquer jardim.
Se o sol do meu infinito
é mais um eclipse para o seu luar.
Se o enredo desse meu samba
sempre faz desfecho com o mesmo fim.
Porque pra mim,
o vento só é estorvo
pra quem não quer navegar.
E que quando sopra
é porque sabe pra onde ir,
quando e onde vai chegar.
Não importa se terá que remar
ou deixar a correnteza pedir.
Quem não sabe medir
é quem não sabe enxergar.
Os olhos não falam mais que palavras,
mas sempre sabem o que falar.
Não sabem quando mentir
e se não falam é porque só querem olhar.
Agora, não faça do meu jeito
discurso para o seu penar.
Meu peito é muito mais estreito
do que qualquer outro caminho
que irá passar.
Saiba que as rosas têm espinhos
porque não é só de peixinhos que se faz um mar
e que a dor em desencanto é desalinho,
mas é somente sozinho que se aprende a amar.
Se não posso viver como passarinho,
deixe-me no ninho até reaprender a voar.
Enquanto isso,
volto a viver no meu canto,
volto a viver desencanto,
volto a viver outro encanto
e deixo que o canto me toque o cantar.
É de pranto que rego meu canto,
é de canto que navego em meu mar,
até que o coração que parou de bater,
volte a bater sem parar
e cada dor que desatine sem gosto
seja uma cor que ilumine o olhar.
E cada gota que escorra do rosto
seja um rio que viva a me levar.
Só assim poderei ser eu de novo
pra outra vez voltar a errar.
E que entendam que o que sinto é o que movo
e que não corro se não sei tropeçar.
Que não sou eu quem está pedindo socorro.
Se hoje por dentro eu morro,
amanhã faço Dela meu lar.
O futuro se faz do pensamento
que pensamos um dia por pensar.
E é pensando que se faz um momento.
Pensar não quer dizer não falar.
O pensar é o limiar do afogamento
que nos sujeitamos quando decidimos falar.
É da fala que se dá o desentendimento.
Quanto mais falamos mais teimamos em afogar.
Se for pensando que me faço conciso,
eu penso que preciso não parar de pensar.
Se é confuso, se é flutuante ou se é impreciso,
dê-me razões que me façam pensar em parar.
Acho que não sei ser igual aos outros...
Prefiro fazer do meu mundo
um profundo fazedor de pensar.