Notei que o tempo que passa
vai deixando as traças no seu mesmo lugar.
De qualquer maneira vou achando graça,
pois o tempo que esvoaça
é o mesmo que volta a passar.
Aí, vem o vento trazendo a fumaça,
e a vista embaça,
a poeira levanta
e de nada adianta querer te soprar.
Assim vou levando às tantas,
rindo por fora
e por dentro querendo chorar.
Mas por que ficar contando hora,
se a demora foi feita pra gente mudar.
Com o pranto eu rego meu canto
e é desse encanto que me faço florar.
Eu tenho no verso um mar que me ancora,
e tenho nos olhos um céu de luar.
Preciso viver o meu tempo de agora,
pois, na outra volta, não pretendo parar.
Vai vida, me solta!